Licença-Maternidade para Bebê Reborn? Caso na Bahia Acende Debate Sobre Bonecas Hiper-realistas
Um caso inusitado na Bahia trouxe à tona um debate complexo envolvendo direitos trabalhistas, saúde mental e um fenômeno crescente: o bebê reborn. Uma funcionária de uma empresa em Salvador recorreu à Justiça do Trabalho após ter seu pedido de licença-maternidade e salário-família negado. O motivo? O ‘filho’ em questão era um bebê reborn, uma boneca artesanal conhecida por seu impressionante realismo, que simula com detalhes a aparência de um recém-nascido humano.
O episódio, que rapidamente ganhou as redes sociais, reacendeu discussões sobre a natureza desses objetos e o vínculo que algumas pessoas desenvolvem com eles. A situação levanta questões sobre até que ponto a legislação e a sociedade estão preparadas para lidar com as novas configurações de afeto e as necessidades emocionais que emergem com fenômenos como o do bebê reborn.
O Que é um Bebê Reborn e Por Que se Tornou Tão Popular?
Mas afinal, o que é um bebê reborn? O termo, que significa “renascido” em inglês, refere-se a bonecas artesanais meticulosamente modificadas para alcançar um nível de realismo surpreendente, imitando bebês humanos em detalhes como peso, textura da pele, cabelos implantados fio a fio, veias aparentes e até mesmo o cheiro característico de um recém-nascido. A criação de um bebê reborn é um processo artístico complexo, conhecido como “reborning”, que transforma uma boneca de vinil comum em uma peça única e hiper-realista.
A origem exata do bebê reborn é tema de debate, com algumas fontes apontando para práticas de restauração de bonecas durante a escassez da Segunda Guerra Mundial, enquanto outras situam o início do movimento artístico como o conhecemos hoje no começo da década de 1990, nos Estados Unidos e Europa. Foi nesse período que entusiastas e artistas começaram a buscar e desenvolver técnicas para criar bonecas com um nível de detalhe sem precedentes (Wikipédia, s.d.).
A popularidade crescente do bebê reborn pode ser atribuída a diversos fatores. Para muitos, são itens de coleção, apreciados pela arte e pelo detalhismo. Para outros, o bebê reborn assume um papel terapêutico, ajudando a lidar com a perda gestacional, a síndrome do ninho vazio ou simplesmente como companhia. Nos últimos anos, a visibilidade aumentou exponencialmente com as redes sociais, onde “mães reborn” compartilham rotinas e cuidados com suas bonecas, gerando curiosidade, engajamento e, por vezes, controvérsia, como visto em recentes encontros e vídeos virais no Brasil (G1, 2024; CNN Brasil, 2025).
O Caso na Justiça Baiana e Suas Implicações
No caso da funcionária de Salvador, a ação judicial, protocolada em 27 de maio de 2025 no Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-BA), pedia não apenas a licença-maternidade e o salário-família, mas também uma indenização de R$ 10 mil por danos morais. A defesa argumentava que a trabalhadora havia desenvolvido um “profundo vínculo materno” com seu bebê reborn e que a negativa da empresa, acompanhada de comentários depreciativos de colegas e superiores – que teriam sugerido que ela precisava de um “psiquiatra, não de benefício” – configurava constrangimento e deslegitimação de seus sentimentos (G1, 2025).
A repercussão negativa nas redes sociais, no entanto, levou à desistência da ação apenas dois dias após seu início. O processo foi arquivado antes mesmo da audiência. Este desfecho rápido não diminui a relevância do debate sobre o reconhecimento e os limites do afeto direcionado a objetos como o bebê reborn no ambiente de trabalho e na sociedade em geral.
O episódio se soma a outras discussões recentes envolvendo o bebê reborn no Brasil, como propostas de lei para multar quem usa as bonecas para furar filas preferenciais e a criação de datas comemorativas para as artesãs que as produzem, evidenciando como o fenômeno permeia diferentes esferas sociais e legais.
Referências
- BEBÊ reborn. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, s.d. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Beb%C3%AA_reborn.
